Eulália M. Radtke
Ed. Cadernos Literários-Tribuna de São José
Ed. Cadernos Literários-Tribuna de São José
A rosa-dos-ventos
é vermelha e amarela
é terra em verde-luz
q’ilumina o fogo
d’um tempo d’abraço terno
na pele se estendendo.
Quando em lombos de mulas lentas
galopavam as primaveras espalhadas
pelos jardins,
no rumo dos girassóis transbordavam
açúcar/néctar e cheiros
pelos beiras dos rios lentos
-ai beija-flores,ai abelhinhas, ai beijo da natureza
tanto canto de Deus.
Que castelos de tons trovados
nas tardes observadas do Comendador.
Que maios ou setembros
nos espinhos da Roseira.
Que janeiros ou dezembros
entre os quatros pontos cardeais.
Dá roseiras em campo largo,
canarinhos amarelinhos cantador
de telhados,
vinho forte
feijão de todo dia
paçoca de pilão socada.
Em campos largos da roseira
e da espinho,
erva-mate, saracura
marreco-d’água,carqueja
bracatinga com flor de mel
cedros verdes e cavalos voadores
d’Haras Fortaleza
d’Haras de Araras
d’Haras do sonho maior.
Na prosa do Comendador
moravam as distâncias das terras
-os alicerces do poder-
( a construção do campo-santo)
Rio Cotia
Rio Despique
mulas sonolentas garimpando
a lida,
milhares de asas de pássaros
pousavam na cor do tempo
quando a palavra clara
queimava no coração
num passo triste d’um rio demorado,
para dançar mais adiante
nos braços da saudade
d’uma festa de São João.
Floresce ainda
onde os pássaros inda abrem vôo
no verde curvo dos campos,
os rastros de grama unida
q’junto dos cavalos ligeiros vão
ornar jardins longínquos,suntuosos
a preços de patacos altos.
Florescem as pinhas florescem as cavas.
Florescem os lagos com sementes nativas:
traíras,caras,piavas, ainda.
Florescem ainda e sempre as esperanças
-a roupagem dos sonhos
a sinopse da vida.
-II-
Nas mãos da História agitam
o silêncio.
E no fluxo e refluxo de tudo
ainda sobra seo Antônio Machado
guarda um brilho das águas
que viveu , no refúgio
das lembranças aquietadas
no culto do peito,
onde a memória surge e ressurge
e se esconde
porque são 92 anos
desde que soltou seu primeiro grito
nos estirões de Campo Largo,
onde verteu os instantes
que jamais serão iguais.
Quem vai contar
Campo Largo?
-as parteiras plantadoras de vidas?
(as Emílias? as Catarinas?)
-os curandeiros? Irinéu, o doutor?
-seo Furquim, o homem que lia as mãos?
-ou seriam as benzedeiras “má inclinadas”
as feiticeiras de tudo?
Quem contará
Campo Largo?
-as invernadas do gado
que Curitiba comeu?
-os ciganos dos escambos?
-os jogos de bola em nó de pinho?
-as pegadinhas,valsinhas,tangos
e quadrilhas
ou os versos da “ratoeira” cantada
para traçar as donzelas das famílias
distintas?
Talvez a flor de cambuí
ou o pé de butiazeiro,onde dorme
o tesouro enterrado lá na c
u
r
v
a
da Contenda.
Talvez a música d’uma sanfoninha
de 8 baixos
ou de uma viola de 8 tensos
sobre o chão de poeira trotado
pelos tamancos do Fandango
de São Gonçalo
Talvez a reza do seo Janguito
ou a menta da hortelã,
a casca da laranja queimada
correndo na garganta.
Pode que a pomada
da casca do pau de Andrade
cure as feridas não contadas.
Quem poderá contar?
Pode que os sismos dos ventos abertos
tenham a tudo posto no esquecimento.
Quem contará na derradeira
tentativa?
Talvez um poema
-halos de anil
e mãos que hoje acendem sol
na trama eterna e imensurável
de fecundar a terra.
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