terça-feira, 1 de março de 2011

A CANÇÃO DE CASTELHANOS

               A CANÇÃO DE CASTELHANOS

  Ed. Cadernos  Literários-Tribuna de São José 
                                         Eulália M.Radtke


Um destino se esconde na Mata Atlântica
Ora nota afinada d’um verso fundo
Ora solidão de vida e drama.

Um destino se esconde nos mistérios
Entre plantas rasteiras e sombras altaneiras,
Mas contam os duendes da relva gigante
Que do outro lado de qualquer rio dormem os sonhos

E acordam fios de esperanças
Nas canções dos lírios selvagens banhados
Em seus odores úmidos de noite clareada
Onde os pássaros noturnos desfolham sons de delírios e
Tormentos.

Ainda que vozes de medos despencam
Nos abismos abertos entre  as nuvens e o tempo de esperar,
Ainda que flores vigilantes despejam
Frágeis lágrimas em rostos e corpos cansados,
Há de se cantar.

Com água e vento e pétalas de amor
E dele nascerá a música d’um povo vindo  do silêncio,
Onde os deuses da luz mais  densa
Os deuses dos regatos e dos bosques
Prendem ao ventre da  Terra, enigmas, sortilégio e crianças que
Nascem.

Como vasos suspensos
Os guaxes negros exibem seus ninhos
Em barba-de-velho
E a gabiroba madura  dá alimento
Á carne da galinha voadora
-E lá se vai o vôo pesado do Jacu
Cortando quietudes e prismas.

Um destino se esconde no verso e anverso
E na vida do povo de  Castelhanos.

Mas anjos seguem seus passos
Pelo olhar das estrelas
E com chispas de versos sagrados
Plantam na Terra rubra de sol
Uma centelha d’um poema inacabado
- um legado de verde solidão.

Ali  se nasce  ale se revive
Sob os segredos dos olhos de Deus.

Ali cipó ali pássaros e cobras coloridas
Sobre a  terra esplendorosa.

Ali têmpera ali forja
Sob os raios das tempestades sonantes.

Ali sentidos ali velados
Sob as raízes da terra quente guardados.

As auroras foram semeadas
Quando os crepúsculos defloraram
O chão
A derradeira lembrança dos antepassados.
Entre canto de sóis e luas
Germinaram limpas das cachoeiras
Tranças de sonhos
- Ainda que frágeis-
Enrolando corações no peito.

Ai que visão nos espaços de longe
Ai que devagar o tempo!

Ai que curva de velhice e raros cabelos
Ai que ritual rude e sólido na imensidão da Terra!
Ai que nada ai que tudo,
Quando a semente deixada na palma da mão cósmica
Expõe navegados entranhas
-Esfinge rara causa e rumo-
espaço redescoberto.

Para sobreviver imune ampla
E gloriosa
A canção de Castelhanos

Lá onde residem vidas
-Lá onde residem homens
                             mulheres
                             crianças
                             e sonhos.

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