OU ÁRIA LATINA
SOB O MANTO DE HUITZILOPOCTLI
E A MORTE DE QUETZALCOATL
Eulália M.Radtke
Do livro Lavra Lírica -ed. Cultura em Movimento-2000
Eu canto em dor
A dor doída dos homens
sem rostos
a dor dos homens escondidos
na canção do exílio
Canto os ébrios
os vagabundos,
canto os bandoleiros
em pueblos,
assim os coiotes dos Lhamos
desérticos de Chihuahua
e os párias dos guetos sujos
das grandes capitais.
Canto Pancho
canto Villa,
canto Zapata
terra
e liberdade.
E cantarei sempre
Wladimir
Wladimir
Herzog vou cantar.
Eu canto pelos homens
de raízes
de Zacatecas a Tierra Del Fuego
Canto pelos dramas
Dos sem-terra
De Yucatán a Montevidéu,
E meu canto não endurece
Ao ouvir os repiques do
Sino de La Demajagua.
Canto as Locas de Maio
canto José Martí
Teresa Casuso,
canto por La China
_guerrilheira sem tortillas
E cantarei sempre
Wladimir
Wladimir
Herzog vou cantar.
Eu canto pelas flores mortas
em Morelos,
pela Rua 57 em Goiânia
e o estigma dos caixões de chumbo
sob a terra e a História .
Canto pelos homens
decentes,
por Benito Juarez
Chico Mendes
Tiradentes
e todos aqueles que preservaram
o senso.
Canto a esperança
a violência aprendida
e apreendida.
E cantarei sempre
Wladimir
Wladimir
Herzog vou cantar.
Eu canto pelas cinzas
das queimadas
pelo canto do pássaro
flechado
na densa mata derrubada.
Canto os soldados
os loucos
os mágicos
e os ladrões de tabuleiros.
Canto a revolução da flor
No verso murcho do poeta
campesino.
E cantarei sempre
Wladimir
Wladimir
Herzog vou cantar.
Eu canto 1964
( o brasão brasileiro sem dignidade}
e canto o grande rio de pranto
das famílias dos desaparecidos.
Canto o ouro
esmola,,
o negro sob a igualdade
mentirosa
e me nego a cantar
as folhas verdes
nas sendas do crime organizado.
Canto o século XX
dos desmandos
e desencanto o pântano
dos generais.
E cantarei sempre
Wladimir
Wladimir
Herzog vou cantar.
Eu canto os velhos
dos arrabaldes,
a miséria dos templos dem
olidos
e esqueço na dor o braço de Obregón
e a inteligência norte-americana
de Dan Mitrione,
que utilizou mendigos brasileiros
para adestrar os corvos da polícia.
Canto o sol no decreto
das carabinas,
os agrimensores da terra
da esperança,
-as jardas dos sonhos-
e esqueço a melodia das patas
dos grandes cavalos de tróia
deflagrados nas praças de corações
latinos.
E cantarei sempre
Wladimir
Wladimir
Herzog vou cantar.
E enquanto a palavra
for alento e exaltação
. em minha garganta,
eu cantarei(ainda e sempre)
mil canções de guerra e paz.
E nos elegantes jardins
dos Palácios governamentais,
sobre uma enigmática coluna
um anjo abrirá suas asas douradas
e cantará a elegia dos homens
sem rostos
enterrados sob os equívocos
da
História.
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