Em pórticos de leões atavios
Atraído de inveja divina
Agamênon
afia gume d’um punhal celeste.
Um louco profetiza na sombra.
É Zeus – guardião de ruínas –
sob a muda provação do silêncio.
Imóvel simples e nua
a fatal beleza de Helena
é simetria brida.
Cassandra adivinha futuro,
prefere a servidão
aos braços de Apolo.
É lá que se vão os cavalos
num trote ligeiro de Aquiles.
É lá que entesa o sonho
no desejo mais ardente de Fedra.
Fecundo quieto lunar
Hipólito hospeda deuses moribundos
num perfume de ervas e astros.
Urdida telúrica avolumada
em Olímpia
o leite de Hera
d'um seio mordido e jorrado
cobrem olhos bovinos, diáfanos.
Nos cântaros
a oliva é azeite sagrado
nas mãos ventrais de Artemis.
Nas asas de Vitória
os sátiros paradoxais
espreitam a velheira do mundo.
Atena, grave e alerta
enruga no templo de
Lindo.
Afrodite suspende os gestos
para ser imagem rígida
num curto instante de
eternidade.
Inconclusa,
Atenéia logra justiça
enquanto Pegaso não voa
doando suas asas à Alceu
sob o gosto antecipado do luto
pela ruina.
Ulisses venera Penélope
Homero desvirtua.
Safo sagra mulheres análogas
transidas
crava poesia no corpo tangível
de Lesbos.
Pan renasce nos bambuzais.
Desconexas, Pitis e Eco
enlevam Píndaro a transplantar
o sonho em odes.
Poseidon Poseidon,
Édipo ainda vive e vê!
Encontrei-o cintilando
nos dourados bosques das oliveiras
nodosas,
aqui, ali, no pão e vinho
nos corações de tantas casas.
Jocasta cora, quebradiça e
fugidia.
Laio ressuscita num santuário
de sacrifícios votivos.
O "canto do bode"
ainda ressoa e arde na terra
-- há sempre um projeto de dor.
Eterno,
Dioniso dorme em Epidauro
sob a faina altissonante
de Ésquilo, Sófocles
Eurípedes.
O "canto do bode" arderá sempre
dolente e sonoro
sobre espelhos imutáveis da antítese
onde se guardam Cratino, Êupolis
Aristófanes.
Diógenes morreu.
Apagou-se a chama
na obscura avenida humana.
À sombra mistica de Pitárogas
os teoremas inexatos
escondem as dúvidas de Platão
em fios difusos.
Cioso, Protagoras observa a fera
inconsútil de nós
-- exércitos sofistas tantos --
e nem Hipócrates jura mais
nos sacrários de Asclépio.
Do jogo à estranheza
e num assomo de lucidez tardia,
Sócrates tira o verbo da pedra
revela que mentiu
confessando que sempre soube.
Ai Medéia, Electra,
as troianas invadem Tebas!
Ancestrais e num antefim
transladam díspares armadilhas
douradas.
Ai Heródoto,
a memória é olho sombreado
e esquecimento
nos atravessando a garganta
onde demônios e deuses
respiram.
Até aonde posso crer
em meus delírios,
em meus desvelos solícitos
d'uma sobrevida ou catarse,
adormeci sob o átrio do Partenon.
Alimentada da providência
divina dos deuses silentes
meus sonhos sobrevivem implacáveis
pontuais,
atemporais aos tributos todos.
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