NOS
       HAICAIS DAS ESTAÇÕES
            Enquanto o Verão se esvai
            nas brumas do Outono 
            O Inverno fortifica
            os rebentos da Primavera
                I
      SÓIS DE FOGO SÃO VERÃO
                1
      Sóis de fogo são verão
       desce o rio alumiado
           peixe cria
                2
      Bem-te-vis nos sarandins
      tuiuiús em cepos velhos
            peixe entoca
                3
      Nos beirais de aguapés
      em ninhos molhadinhos
            peixe nasce
                4
      Sóis de fogo são verão
        em águas de cristal
           peixe brilha
                5
      Pescador corre suor
    nas têmporas da esperança
            peixe vem
               6
      Na pendura das barrancas
      terra aquece ao meio-dia
             peixe morde
               7
        
            Um sol arde 
             no céu
            um peixe afoga
             no rio
             na linha
            anzol e sangue
                                            II
                                 FOLHAS MORREM E SÃO OUTONO
                                             1
                                 Folhas morrem e são outono
                                    em horizonte amarelo
                                       chuvas secam
                                             2
                                 Céu em cinza cobre a terra
                                   na brisa da tardinha
                                         sol esfria
                                             3
                                  Nos cômoros de aluvião
                                  nascem ervas de baraço
                                        rio estia
                                             4
                                  Folhas morrem e são outono
                                 despem as vestes os salgueiros
                                         terra enturva
                                             5
                                    Pescador recolhe barco
                                     nos veios da memória
                                          tempo verte
                                             6
                                   Nas vértebras do rio quente
                                     vasam húmus de viçar
                                         peixe cresce
                                             7
                                     Em vessadas tem
                                         colheitas
                                     outras sementes
                                          no chão
                                   Nas sendas das águas leves
                                            silêncio
                III
   NUVENS GORDAS SÃO INVERNO
                1
       Nuvens gordas são inverno
        vento chia bem fininho
           chuvas descem
                2
      Pó branquinho são geadas
           no dia clareado
               sol espia
                3
      Nas landas dos silvados
      vem do brejo lírio forte
           rio perfuma
                4
      Nuvens gordas são inverno
       sob árvores descarnadas
              terra incha
                5
           Pescador fia redes
          entre fios de prosear
               tece espera
                6
          No poço ora mais fundo
          sob raízes e bambuzais
                peixe vive
                
                7
          Grossas névoas cobrem
                   rio
               ramos jazem
                   na
                hibernada
          nas águas silenciosas
                   rio
                                                     IV
                                        LUZES FLORIDAS SÃO PRIMAVERA
                                                      1
                                        Luzes floridas são primaveras
                                       sobre a metamorfose das plantas
                                                tépidas chuvas
                                                      2
                                           Tem festa nas ramadas
                                       nas metáforas das cores múltiplas
                                                   sol cintila
                                                      3
                                            Entre as horas de corar
                                             nascem uiaras e poesia
                                                   rio renova
                                                      4
                                         Luzes floridas são primavera
                                          nas estranhezas de cada flor
                                                   terra fecuda
                                                      5
                                          Pescador enfeita casa
                                         entre o canto e verde voz
                                                  faz a hora
                                                      6
                                          Nas margens bem floridas
                                            sob o vôo dos colibris
                                                  peixe salta
                                                      7
                                            Todo rio é sempre 
                                                    rei
                                             peixe vivo é sua
                                                  flor
                                          nas fendas das águas mornas
                                                  aninhamento
 
Escritora pós-modernista. EULÁLIA M.RADTKE, Publicou 60 antologias.AS TRAVESSIAS-1977 quando Lindolf Bell reapresenta a CATEQUESE POÉTICA.ESPIRAL 1980.O SERMÃO DAS SETE PALAVRAS-1987.Anos 90 se fixa na poesia pura.Publica PÃO E POESIA e LAVRA LÍRICA. Atuou como jornalista por mais de 20 anos, onde mostra crônicas de costumes com ênfase na política-social.Em 2007,OLHO-D'ÁGUA poesia juvenil, outra vertente literária.Eulália Radtke, Lair Bernardoni e Professor Pasquale. Foto: Maria Cristina Radke
 
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